Conversa com Beto Santa Cruz: Transformação e Adoração "A igreja não é pra transformar ninguém em ídolo"



Beto Santa Cruz trabalha há 26 anos com a música, é professor e tem seu próprio estúdio, mas também faz aulas de canto nas igrejas. Desde 2010, quando se converteu ao evangelho, se dedica ao louvor a Deus através da sua arte. Beto começou a cantar com 13 anos de idade em bandas de Rock, aos 17 em bandas de bailes da cidade que acabou com a chegada do Forró, morou em várias cidades do Brasil como São Paulo, mas foi em Fortaleza que ele participou de várias Bandas de Forró como Forró de Luxo, Kaiaka, Bananinha Loira, Drops de Hortelã, trabalhou com o conhecido Dorgival Dantas e foi na Banda Capital do Sol que conheceu mais intensamente o sucesso se apresentando em programas brasileiros famosos como Hebe Camargo e Raul Gil, entre outros. Num certo período Beto se envolveu com drogas como maconha e cocaína, além de bebidas e orgias. Beto sempre viveu da música, e foi no tempo da Banda Capital do Sol que ele se aprofundou em estudar música porque era exigência da gravadora Som Livre (da TV Globo), depois de um certo tempo quis montar sua própria banda pois achava que podia fazer tudo só, mas caiu em depressão, passou apertos e necessidades, não teve ajuda nem de amigos e nem de quem se dizia fã, até que conheceu Jesus. Depois de sua conversão seu vazio foi preenchido, e ele transferiu a sua arte para a glória de Deus. Pai de duas filhas, congrega na Assembléia de Deus El Shadday, e num rápido bate papo falamos sobre transformação e música em adoração.

Marcos: Beto, da saída da música secular para a música cristã, qual a maior dificuldade que você enfrentou? Profissionalmente falando trabalhar com música na igreja é mais difícil?

Beto: Sim, quando você está no meio secular e se destaca se depara com bajulações, estrelismo, assédio de fãs, a vontade de ser mais famoso cresce e você acaba se sentindo diferente das outras pessoas, mas sair porque no fundo você sente que tudo é ilusão. Eu me sentia cansado, os amigos são falsos, você só vale o que tem, quando comecei a entender esse mundo senti nojo. No princípio foi difícil mas aprendi a me acostumar, quando me converti não quis cantar na igreja e nem ser cantar gospel, comecei a fazer naturalmente na igreja sem pretensões. Viver na igreja e cobrar por isso é muito complicado, alguns fazem partes de igrejas ricas financeiramente ou são contratados por uma gravadora, mas acho que essa coisa de gravadora é difícil porque ela controla seus passos, mas seria bom se conseguisse uma gravadora apenas para distribuir seus CD's. É complexo, por isso que muitos saem da igreja para cantar no meio secular.

Marcos: Quem eram sua referências musicais antigamente e quem são as de hoje? Você acha que a música cristã tecnicamente falando se iguala ou é superior a produções seculares?

Beto: Bom, era Roupa Nova, Roberto Carlos, Scorpions, entre outros, a minha visão musical era muito ampla. Hoje não tenho muitas referências, acho que essa questão de ter um ídolo na música é uma coisa de adolescência musical, tem muitos cantores bons na música gospel da atualidade como: Leonardo Gonçalves, Eli Soares, Mauro do Oficina G3 e Daniela Araújo. Acho que os cantores das igrejas procuram estudar mais que os seculares. A maioria desses concursos nacionais traz pessoas que começaram na igreja. E acredito que tecnicamente isso faz a diferença.

Marcos: Houve algum momento desde a sua conversão que você pensou em voltar atrás? 

Beto: Não. Não recebi coisas materiais grandiosas mas Deus trabalha em detalhes. Muitos entram na igreja porque pensam que vão enriquecer, que vão gravar CD, e a igreja não é pra transformar ninguém em ídolo, a igreja é pra transformar você em alguém melhor, desprendida das coisas do mundo como riquezas, dinheiro, fama, glória humana, e quando entrei pro evangelho eu não procurei ser famoso mas ter caráter. Se eu tivesse entrado na igreja pra ser famoso com certeza eu já teria saído.

Marcos: Quais seus projetos no Reino de Deus para o futuro? Onde você gostaria de chegar que ainda não chegou?

Beto: Mais intimidade com Deus. Fazer o que ele gostaria que eu fizesse. Ser um ser humano melhor. É isso.

Marcos: Quais suas experiências com Deus mais marcantes? Pode nos contar alguma.

Beto: São várias. Mas tenho muito essa coisa de ser respondido rapidamente, não oro por grandes coisas materiais, mas Deus sempre me dá o necessário. No estúdio por exemplo não lota de alunos para que eu enriqueça, mas Deus sempre manda o necessário para que eu dê conta e tire o meu sustento com dignidade.

Marcos: Você ouve muita música gospel? O que acha das músicas da atualidade? Preferia as antigas?

Beto: Sim, escuto muito. Eu gosto de ambas, as de hoje tem arranjos muito mais modernas se comparadas as de antigamente, porém as canções antigas eram mais louvores. Quando você fala palavras de elogio e exaltação a Deus você está louvando, e quando você canta uma música falando de seus sentimentos ou para uma outra pessoa você está cantando. Louvor significa elogio. Hoje tem algumas poucas que realmente são louvores. Quando você diz "Santo, Santo" você está louvando, não que não seja válido cantar seus sentimentos como "Eu preciso de um milagre", mas enfatizo isso como diferença entre as duas.

Marcos: Recentemente, um cantor gospel voltou ao mundo do forró causando muita polêmica e dividiu opiniões. O que você acha de uma pessoa que testemunha uma transformação e depois volta a vida de antes? Como você ver isso?

Beto: Essa daí é de voar a "tampa gospel" (risos), é complexo responder isso, mas é como a passagem do cão que retorna ao vômito citado na palavra, eu não posso julgar ninguém, mas acho triste, porque se há saída com Deus precisamos buscá-la. Eu respeito a decisão de cada um, mas acho que quando você testemunha criticando esse estilo de vida passada e depois retorna a ele, é meio complicado.

Por Marcos de Sá



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