Quando a insensibilidade se estabelece.

Certa vez eu estava passando com um amigo ao lado de um local onde tinha acabado de acontecer um acidente, fiquei olhando para o rapaz ferido no chão e comentei: “há algum tempo atrás eu não conseguia ver esse tipo de coisa, mas depois de tanto ver acontecer na minha frente acho que estou me acostumando”, o meu amigo – que estava fazendo um curso de radiologia – me respondeu: “Nós que trabalhamos com o corpo humano temos que ser insensíveis a esse tipo de acontecimento, porque vemos de tudo na área em que trabalhamos. Acabamos mesmo nos acostumando e nos tornando insensíveis”.

Nesse momento comecei a pensar que na vida também é assim. Quando somos traídos, quando perdemos quem amamos, quando somos enganados, quando somos feridos com atos ou palavras, quando sofremos abusos, quando somos vítimas da maldade e do descaso das pessoas, gradativamente nos tornamos insensíveis. Podemos perceber isso recordando de como eram os nossos sentimentos quando ainda éramos crianças, geralmente perdoávamos com facilidade, não víamos maldade nas pessoas e não tínhamos tantos conflitos como quando nos tornamos jovens ou adultos. As circunstâncias foram mudando, a gente começou a andar sem a ajuda dos pais e descobrindo sozinho um mundo de possibilidades – sejam elas boas ou más – o fato é que a dor gerada por algum conflito não resolvido vai produzindo em nosso caráter a grande chance de nos tornarmos pessoas insensíveis.

Muitas pessoas se afastaram da Igreja onde se congregavam porque sofreram ataques de pessoas dentro da própria comunidade, essa ferida levou essa pessoa a se tornar insensível até mesmo ao Espírito Santo – que não tem nada a ver com esses ataques – simplesmente pelo fato de muitos não entenderem que nem todos que fazem parte de uma igreja ou congregação conhecem a Deus. Outros não conseguem superar uma traição, principalmente quando parte de quem menos se esperava. São inúmeros os casos que poderíamos listar para tratar da questão da insensibilidade. Sem o Espírito Santo é provável que todas as pessoas se tornem insensíveis quando passarem por seus conflitos, perdas e dores, pois é ele quem convence o homem do pecado, do juízo, da justiça e de que o homem é dependente de sua presença.

Por várias vezes em minha vida eu disse ao Espírito Santo: “acho que estou me tornando insensível, por favor, me ajude!”, mas eu descobrir que existem dores que nos causa tanto desconforto na alma que nos empurra para a mudança. A questão de ser insensível ou não, é escolha de cada um. A dor pode durar algum tempo, mas jamais podemos permitir que ela crie raízes dentro de nós. Se meditarmos no livro de Salmos podemos encontrar várias vezes Davi pedindo a Deus de várias formas que não permitisse que ele se tornasse um homem insensível, e olha que ele tinha uma família toda desestruturada, e ainda tinha que comandar uma nação. Após ter cometido um pecado grave e se arrependido ele pede: “Não me lances fora da tua presença, e não retire de mim o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário” (Salmos 51; 11-12). Davi sabia que não podia viver sem a presença de Deus, ela era o que ele tinha de mais precioso. Reconhecia quem sem a vida de Deus dentro dele se tornaria um homem seco, duro de coração, sem alegria, insensível.

Indiferença, impassibilidade, apatia são alguns sinônimos de insensibilidade. Não podemos aceitar ser indiferente as outras pessoas que chegarão a nossas vidas, as possibilidades que os dias nos proporcionam e principalmente ao Espírito Santo de Deus – que é vida e alegria – em nós. É normal que após sofrer vários golpes - principalmente quando vieram de pessoas próximas – muitas coisas mudem, a confiança não seja mais estabelecida, não haja mais amizade como antes, mas não podemos permitir que isso afete nossas outras relações, e não impeça que outras pessoas entrem em nossas vidas. Pessoas que tem o caráter de Deus. Já sofri muito em relação a amizades, mas eu não permiti que isso criasse uma barreira em mim. Aprendi a não confiar com facilidade, a esperar que o tempo revelasse quem são os meus amigos ao invés de esperar pelo coração. Sem jamais me tornar um homem insensível, mas um homem segundo o coração de Deus.

Ouça sempre o Espírito Santo, ele é sensível, ele intercede e chora por nós com gemidos inexprimíveis e àqueles que são a “Casa” Dele também são sensíveis.

Por Marcos de Sá

Comentários